Recentemente vocês acompanharam nossa matéria sobre o curso de pilotagem esportiva em Interlagos. Os leitores que acompanham as matérias no
Youtube já tiveram a oportunidade de ver. E além da pilotagem propriamente
dita, um curso desse tipo serve para algo maior: aprimorar a técnica de guiar.
Aquele domingo amanheceu chuvoso
em São Paulo. Chuva fina, insistente, daquele modo que nos convida a ficar em
casa. Mas eu tinha uma razão especial pra sair naquele dia. Era uma macchina
vermelha, com ronco grave e muita história nas pistas.
Cheguei até a garagem e os pingos
caíam preguiçosos do lado de fora. Girei a chave e o ronco – já citado –
invadiu o ambiente. Era algo italiano, com personalidade, e que falava alto no
meu coração veneziano. Afinal, o primeiro Bellote chegou por aqui em 1892.
A marcha a ré correu pela grelha
e estufei o peito pra absorver todo o aroma de couro do estofamento. A cor
vermelha definitivamente faz parte de sua essência esportiva e é quase
obrigatória em modelos da marca. Evoca paixão, um sentimento que sempre tenho
ao guiar qualquer tipo de carro.
Ainda por cima, uma F355
Berlinetta. Dentre os modelos da marca de Maranello este tem a personalidade
refletida no desenho do estúdio Pininfarina. Uma vez disse que é ela mais do que um esportivo, é sinônimo da
escuderia do cavalinho rampante. Já guiei outras, mas essa é sempre especial.
O motor entre-eixos é um belo V8,
com 3,5 litros e 380 cv girando a altíssimas 8.250 rotações. Como bem define o
espanhol, altisimas prestaciones. Perfeito. Além disso, o ronco estridente
chega até os ouvidos e hipnotiza a mente de forma instantânea. Não há quem
fique indiferente quando uma delas passa pela rua, mesmo com duas décadas de
história.
Como já foi dito, as marchas
passam pela grelha produzindo um ruído único, que causa arrepios a cada troca.
E nesse ponto, entre uma redução e outra, a mágica fica completa com o
punta-tacco, também conhecido como heel and toe pelos ingleses e talon pointe
pelos franceses.
A técnica, usada aqui com seu
nome em italiano, consiste em acelerar e frear ao mesmo tempo, mantendo o giro
do motor e poupando a caixa daquele conhecido tranco a cada redução. Como já
definiu um piloto é a diferença entre dirigir e guiar, a técnica de pista que
pode ser usada nas ruas.
E nesse contexto bastante
italiano pude comprovar que os mestres do passado estavam certos. Nada como
ouvir um giro bem acertado e a rotação certa a cada redução. Mais do que algo
indicado para o bom funcionamento, é o verdadeiro prazer ao volante. Como
provar uma bela macarronada com molho ao sugo.
Na matéria falo também sobre o
distanciamento cada vez maior entre homem e máquina. E infelizmente marcas como
Ferrari e Porsche estão abrindo mão da técnica em prol da tecnologia, com
transmissões cada vez mais modernas. Uma pena, no sentido clássico. Nada como asfalto,
três pedais e o ronco de um puro-sangue em uma manhã de domingo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário