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20 de fev. de 2014

Chuva, uma Ferrari e alguns punta-taccos



Recentemente vocês acompanharam nossa matéria sobre o curso de pilotagem esportiva em Interlagos. Os leitores que acompanham as matérias no Youtube já tiveram a oportunidade de ver. E além da pilotagem propriamente dita, um curso desse tipo serve para algo maior: aprimorar a técnica de guiar.

Aquele domingo amanheceu chuvoso em São Paulo. Chuva fina, insistente, daquele modo que nos convida a ficar em casa. Mas eu tinha uma razão especial pra sair naquele dia. Era uma macchina vermelha, com ronco grave e muita história nas pistas.

Cheguei até a garagem e os pingos caíam preguiçosos do lado de fora. Girei a chave e o ronco – já citado – invadiu o ambiente. Era algo italiano, com personalidade, e que falava alto no meu coração veneziano. Afinal, o primeiro Bellote chegou por aqui em 1892.

A marcha a ré correu pela grelha e estufei o peito pra absorver todo o aroma de couro do estofamento. A cor vermelha definitivamente faz parte de sua essência esportiva e é quase obrigatória em modelos da marca. Evoca paixão, um sentimento que sempre tenho ao guiar qualquer tipo de carro.

Ainda por cima, uma F355 Berlinetta. Dentre os modelos da marca de Maranello este tem a personalidade refletida no desenho do estúdio Pininfarina. Uma vez disse que é  ela mais do que um esportivo, é sinônimo da escuderia do cavalinho rampante. Já guiei outras, mas essa é sempre especial.

O motor entre-eixos é um belo V8, com 3,5 litros e 380 cv girando a altíssimas 8.250 rotações. Como bem define o espanhol, altisimas prestaciones. Perfeito. Além disso, o ronco estridente chega até os ouvidos e hipnotiza a mente de forma instantânea. Não há quem fique indiferente quando uma delas passa pela rua, mesmo com duas décadas de história.

Como já foi dito, as marchas passam pela grelha produzindo um ruído único, que causa arrepios a cada troca. E nesse ponto, entre uma redução e outra, a mágica fica completa com o punta-tacco, também conhecido como heel and toe pelos ingleses e talon pointe pelos franceses.

A técnica, usada aqui com seu nome em italiano, consiste em acelerar e frear ao mesmo tempo, mantendo o giro do motor e poupando a caixa daquele conhecido tranco a cada redução. Como já definiu um piloto é a diferença entre dirigir e guiar, a técnica de pista que pode ser usada nas ruas.

E nesse contexto bastante italiano pude comprovar que os mestres do passado estavam certos. Nada como ouvir um giro bem acertado e a rotação certa a cada redução. Mais do que algo indicado para o bom funcionamento, é o verdadeiro prazer ao volante. Como provar uma bela macarronada com molho ao sugo.

Na matéria falo também sobre o distanciamento cada vez maior entre homem e máquina. E infelizmente marcas como Ferrari e Porsche estão abrindo mão da técnica em prol da tecnologia, com transmissões cada vez mais modernas. Uma pena, no sentido clássico. Nada como asfalto, três pedais e o ronco de um puro-sangue em uma manhã de domingo.


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